17/12/2010

Manhã nublada
de face cansada

Segure estes olhos
pesados
Sustentando suas arenosas
pálpebras

Feche a boca e abra os ouvidos
Fortalecendo frágeis brutos músculos

Para deixar de ser tão cinza
este mesmo novo dia.

21/09/2010

Diariamente me confundo


Tento ver o mundo como novo

mas quando vejo a criança, o jovem e o velho morador de rua

e outras fatalidades

me apavoro sentindo-me impotente

pensando que novo é o número crescente das catástrofes


Finjo acreditar na novidade

para não correr o risco de ser chamado de covarde

Finjo não perceber que todo dia é igual ao que passou e ao que virá

para parecer entusiasta


Minha aflição está no saber

que não é nisso que confio

que na verdade me confundo.

02/09/2010

Quando a ingenuidade permitia a existência sem dó

havia mais espaço para luta e motivação


Cada dia era o despertar de novas convicções


A palavra do poeta

do filósofo, do físico, do matemático

e do carteiro

era interpretada como uma mensagem pessoal para mudar


E a mudança materializava-se em impulso


Mas algo parece dar errado

convertendo feras em dóceis presas

guardando as garras, escondendo os dentes

trocando o pulso pelo pasto


Por sorte o instinto não se desfaz diante da farsa

a semente da fúria brota da calúnia, da injustiça, da mentira e do desgaste


A revolução amadurece

passa de pessoalmente estanque

para coletiva e constante.

27/05/2010

Vozes da modernidade:

Beng! Pow! Tum! Ratatatá!
Pow! Tum! Beng! Ratatatá!
Tum! Beng! Pow! Ratatatá!
Ratatatá! Beng! Pow! Tum!
Ssssssssssssssssssssss
Quem nunca se desesperou
que me jogue um balde
de extrema temperança.
Indisponho-me com
palavras enroscadas
olhares atravessados
desejos recalcados

Disponho-me
a realizar
a transversar
a desenrolar

Mas não estou só
nesta história

Nem sempre colaboram.

19/05/2010

Exagero minhas manhãs
com tons de laranja e dourado
compensando o esforço indesejado

Quando nublo não me perturbo
exagero no otimismo
resigno

Faça chuva ou faça lua
auto-afago é um dos prêmios baratos
do nascer-se ao opor-se.

03/05/2010

Durante o almoço lembrei-me de uma entrevista com um famoso bibliófilo que dizia: - Paulo Coelho está para a literatura assim como Edir Macedo está para a religião. Porque ouvi a conversa entre um garçom e um cliente:
- O senhor já pediu, Bispo?
- Ainda não... quero um filé com fritas...
- Algo para beber?
- Tem suco de quê?
- Abacaxi, limão,
- Tem graviola?
- Tem sim ... com açúcar? ... já trago ...
O tal Bispo não agradeceu, nem se interessou. Fiquei observando.
Bem alinhado o sujeito, com um conjunto comum de terno brega, gravata vermelha, relojão dourado e cara de desconfiado. Sua postura na cadeira era de um urubu tomando sol.
Percebi que apesar da minha grande vontade de respeitar a todos, há tipos que não me deixam tranquilo. Meu almoço foi tumultuado por essa presença, não deixei de observá-lo um instante, pensando na quantidade de pessoas que são enganadas por tipos como esse. A fé a serviço do enriquecimento de pilantras.
Depois de um tempo chegou mais um, com a mesma cara, e praticamente a mesma roupa. Imaginei-me sentando-me à mesa, simplesmente dizer que gostaria de saber sobre o que conversam os Bispos. Não tive coragem. Tomei meu café, com vontade de brigar. Fui pagar a conta sem olhar para eles diretamente, de rabo de olho apenas percebi os dois devorando a comida sem se olharem, parecendo nem sentir o sabor do alimento.
De dentro do salão pode-se observar a rua e de lá se pode observar o salão, por conta de um grande vidro. Quando saí fiz questão de olhar para através da divisória. Quando percebi que me notaram, enfiei o dedo no nariz, no fundo, buscando um pedaço do meu cérebro. Um deles fez uma careta o outro mastigou seu bife abrindo bem a boca.

21/04/2010

Hoje acordei com vontade de escrever uma prosa lenta e tranquila, lembrando este feriado de 21 de abril com céu tipicamente outonal.
Acordei com vontade de apegar-me ao que costuma passar, relatar o que vejo, dando mais atenção à rotina. Não de uma vez, aos poucos, pedaço por pedaço.
Outro dia resolvi olhar para uma direção que não costumava olhar, e vi dois arco-íris; um, no simples ato de focalizar outra perspectiva, abrindo-me à chance de experimentar, o segundo vi porque ouvi um menino comentando com sua mãe - "Olha, um arco-íris!". Ela não se maravilhou como nos maravilhamos.
O Arco da Aliança nesta cidade corrompida?
Em época de desastres naturais não custa nada se apegar a velhas crenças. Não acredito que o mundo será inundado como dizem que já foi. O que se tornou problema é o fato de ninguém ter comentado ou criado acordos e símbolos para proteção contra outros eventos. Quem tira dentes, acaba enforcado.
Estruturas estão sendo abaladas, terras estão deslizando, fumaça e fuligem estão tampando as vistas de muitos...
Como poderia não me maravilhar?
Recuso a fatalidade.

13/04/2010

Ver-se à vida,
apesar das vistas
viciarem-se
e se acostumarem
a ser
certas.

25/02/2010

Grita a poeta,
sentindo que o Sol pinta
por detrás do Horizonte:
- Mamãe! Mamãe! Olha que lindo mamãe! Tá rosa o Rinoceronte!

19/02/2010

Flagela-me o Cupido

Penso em me dedicar a outra coisa
que não seja amar

É bom,
como é bom,
mas me sinto corrompido.