24/08/2016

Quadrilha dos deuses

Vulcano amava Vênus que o traiu com Marte...

24 de agosto de 79, quinta-feira – dia de Júpiter.
Vulcano, o deus deformado e rejeitado, irado com as traições da esposa foi demonstrar a insatisfação ao seu pai Júpiter – genitor de Vênus e de Marte, também.
- Estimado pai, estou abaladíssimo com o adultério de meus irmãos. Quero que o senhor tome providências.
- Vulcano (o pai não o chamava de filho), somos deuses, ciúmes é coisa de gentinha. Não me envolverei nos seus problemas, os meus são maiores.
O deus do fogo potencializou seu rancor com mais uma indiferença. Para não explodir, foi ao Vesúvio insultar com blasfêmias seu panteão.
Quem mais sentiu e sofreu foi Pompeia que acabou sepultada pelas lágrimas da tremenda erupção.

24 de agosto de 2016, quarta-feira – dia de Mercúrio.

Mercúrio, outro filho de Júpiter e seu mensageiro oficial, foi convocado durante a madrugada para levar uma missiva a Netuno; irmão de Júpiter, conhecido como o garanhão dos mares, por conta de suas relações com as Ninfas, Sereias e tantas outras entidades.
- Pô, pai! São três da manhã, hoje é meu dia. Posso levar isso depois?
- Insolente! Claro que não...
Contrariado, o jovem chega ao tio em um pulo. E entrega o seguinte texto:

Estimado irmão,
Como andam as forças nessas correntezas da eternidade?
Oh, meu fraterno senhor das águas, sinto falta daqueles tempos nos quais éramos mais admirados, com relações mais sólidas, por mais insólitas que parecessem. Hoje, a monotonia corrói o ponto mais alto do meu etéreo coração.
Livrando-se de sentimentalismos tolos, estava aqui com Mnemosine, desfrutando de doces recordações, uma em especial me trouxe sua festiva figura, dada a natureza amorosa do fato.
Há exatos 1937 anos, da contagem humana, uma dor de cotovelo daquele seu sobrinho ferreiro provocou um grande pânico, lembra como rimos daquilo tudo?

Pobre Vulcano, além de coxo, c o r n o...

Com homéricos amplexos,
Júpiter.

Com a delícia da reminiscência, Netuno não se conteve e soltou uma tremenda gargalhada e novamente os sentimentos dos deuses abalaram a Itália.
Netuno também é conhecido como o deus dos terremotos.








17/06/2016

Sobre Muralhas

Mais um dia, diferente daqueles vividos sob olhares atentos de vigias. Estou na biblioteca construída pelo Estado no lugar dos pavilhões abarrotados de esperanças perdidas.

      Na capital das edificações de paradoxos, este é o meu: vir aqui todos os dias. Mais de um terço da minha vida passei encarcerado na consequência de meus atos; para mim, certos no momento de suas execuções –  tive meus motivos e eles me cegaram. Não sou um bicho qualquer, sei bem quais são os valores morais da sociedade, os individuais e os limites de ser humano.

       Quando o tempo permitiu a assinatura da minha alforria, ganhei a solidão. O pouco que tive, perdi antes do fim do jogo. Saí sem perspectivas e dignidade. Disseram que eu estava apto a retornar ao convívio detrás do muro, mas ninguém me aceitou nesse mundo veloz, cheio de novos aparelhos, gente e pouca solidariedade. Mendiguei.

      Após o grande massacre de números velados, o Estado com um mea culpa cinematográfico demoliu os prédios – depois de abri-los à visitação de pessoas inocentes cheias de desejos culpados e curiosidades sombrias (qual o sentido de conhecer uma prisão? Preparar-se para cumprir a pena de seus defeitos?) Como no genocídio, estive na implosão. Senti que mais uma parte de mim estava virando pó. Vi subirem fantasmas de conhecidos, desconhecidos e os meus próprios. Vi caírem certezas e incertezas. Passei três dias ali, aspirando enxofre.

     Com a demolição física surgiu minha reconstrução moral. No canteiro de obras deste parque composto de biblioteca, faculdade, espaço aberto, árvores e alegrias, me entregaram ferramentas. Cavava a terra, carregava pedras, martelava minhas angústias e enterrei minha aflição. Sou parte disso tudo, do fim ao recomeço.

      Venho aqui todos os dias, para não deixar a memória dessa história dar lugar ao esquecimento do recalque. Tomo meu banho de sol, sem marcação de tempo. Caminho por alamedas calçadas ou morros gramados, raramente lembrando dos corredores, quando eles querem me tomar de assalto vou ao prédio da faculdade e caminho por lá, ainda é o mesmo prédio (já nos contaram bastante sobre a igualdade de aparência entre escolas e prisões), assim não sou vencido por meus medos, acolho-os transfigurando-me. 

      Nessa visita diária, vou à prateleira, pego o mesmo título da literatura universal, sento no mesmo lugar e sinto o preenchimento da renovação.


       Agora sou eu quem observa do alto os brotos nas ruínas.



Créditos da foto: Francisley da Silva Dias 16/06/16
Um Sonho de Liberdade - Domenico Calabrone


23/05/2016

Escárnio Escatológico por Temer

Quando podre
seu fedor carrega em forma e cor
o poder devastador

Seja no banheiro
arreganhando o rego e arregaçando o cu

Ou sutil, aos poucos, sobre o couro cru.

(em tempos de políticas nacionais escatológicas, só penso em merda)

14/04/2016

Estando neste estado tão paranoico
na busca vaga da correria

Por onde passa sente no oco
o cheiro pastoso de cocaína.

12/02/2016


Vê se pode...

Parei no sinal, puxei meu celular
percebi no carro ao lado o motorista com um livro

“não sei quem de Andrade”

Oi?! Livro?!? Que absurdo!!!!
O imbecil não deve ter Feici, nem Zapzap


Af! Não tolero gente atrasada, sem cultura!